Recentemente consegui completar Forza Motorsport 2 na minha Xbox 360 a 100%. Sim, o modo de Carreira, Arcada e até Time Trial. Demorou perto de 100 horas no total e bastantes momentos de frustração. Escrevo este artigo como uma coleção dos meus pensamentos e dicas no geral. Depois de tanto tempo dedicado a este jogo, por que não?
Jogos de carros de simulação são julgados um pouco da mesma maneira que jogos de desporto: os lançamentos mais antigos são geralmente considerados irrelevantes e meramente uma referência de passagem ao explicar a evolução do género. Com modelos de condução antigos, gráficos de carros com poucos detalhes e pistas que não se assemelham à realidade, para além da motivação nostálgica, não haverá motivos para jogar, digamos, o primeiro Gran Turismo. Os jogos novos deverão proporcionar uma experiência mais realista e, por consequente, melhor. Afinal, o objetivo final de todas as iterações no ramo de jogos de corridas é atingir a perfeita simulação da experiência de condução.
No entanto, eu gosto de jogar uma série de jogos por ordem de lançamento. Aprecio genuinamente verificar as diferenças entre as várias entradas, notar a evolução e comparar com o estado atual dos jogos que já saíram ou vão sair. Com jogos de corridas também há o bónus dos jogos mais antigos terem carros mais antigos que já não aparecem. Por exemplo, Forza Motorsport 1 e 2 ainda têm o modelo de Volkswagen que eu já conduzi por essas estradas fora, o que dá sempre algum prazer de ver (e de ver o quão lento é comparado com os carros desportivos).
Salto para HD
Tendo previamente jogado o Forza Motorsport 1 na Xbox original, tinha esse ponto de partida para julgar a sequela. FM1 corria numa resolução de 480p (ou seja, 720×480 que pode ser esticado ou reduzido para 16:9 ou 4:3, conforme desejado) a 30 FPS (Frames Per Second). Em comparação, FM2 corre a 720p (ou seja, 1280×720) e 60 FPS. O salto de para a próxima geração é palpável, com muito mais detalhe visível nos arredores das pistas, incluindo muitos mais espetadores acompanhados com os seus gritos de apoio, algumas caravanas e carros estacionados em certos pontos de algumas pistas e no geral mais adereços (árvores, edifícios, …). FM2 também acrescenta efeitos de bloom e HDR, que são bastante característicos da época, se bem que por vezes o brilho do Sol no metal dos carros consegue ser um pouco exagerado, quando comparado com o predecessor. Por último, só quero mencionar os reflexos do ambiente no corpo brilhante dos carros. Em ambos os jogos os reflexos atualizam a metade da taxa de atualização do jogo. Significa que no FM1 os reflexos atualizam a 15 FPS e no FM2 atualizam a 30 FPS. A duplicação deste valor faz toda a diferença, visto que a imersão quebra quando a meio de uma corrida se vê o carro com uma manta refletiva que se move erraticamente. O uso de 2x MSAA (Multisample Anti-Aliasing) – uma característica possível na Xbox 360, graças aos 10MiB de RAM extremamente rápida muito próxima do chip gráfico. – também ajuda imenso a limpar a imagem.
Carros e pistas
A variedade de monstros de quatro rodas que se utilizam no decorrer destes dois jogos é grande, e foi expandida na segunda iteração, com grande destaque para os Lamborghinis, a minha adição preferida. O Lamborghini Murciélago é possivelmente o meu carro preferido de conduzir no jogo inteiro, com um perfil assapado à estrada e uma enorme estabilidade mesmo em velocidades altas, permitiu-me passar inúmeros eventos no decorrer da carreira com grande facilidade. Mas, de um modo geral, não me pareceu que tenham havido cortes de carros entre os dois jogos.
Em relação às pistas, já tenho algo mais para dizer. Gostava de poder declarar que do original para a sequela houve um aumento do número de pistas às que já existiam, mas isso não é verdade. Infelizmente, a sequela corta nos eventos de ponto a ponto – notavelmente na descida de montanha Fujimi Kaido, um percurso extremamente satisfatório de percorrer, repleto de curvas e contracurvas perfeitas para drifting, à semelhança do demonstrado no icónico Initial D; a variante longa da pista de Nova Iorque; a pista de noite de Toquio; Blue Mountains Raceway e Road America (esta última seria acrescentada mais tarde na forma de DLC).
Em contrapartida, Forza Motorsport 2 acrescenta Mugello, Sebring International e Suzuka Circuit. Circuitos icónicos, sem dúvida, mas não chega para compensar todo o conteúdo removido em comparação com o seu predecessor. Há também a estranha omissão de quaisquer circuitos de noite.
O principal problema que tenho com a remoção de tantas pistas e do modo de jogo ponto a ponto é que Forza Motorsport 2 tem mais eventos que o primeiro jogo. Para comparar:
- Forza Motorsport 1 tem 5 ligas;
- Forza Motorsport 2 tem 9 ligas.
Para adicionar sal na ferida, a primeira liga que uma pessoa terá de jogar assim que inicia o jogo, é o chamado “Proving Grounds”, que são basicamente múltiplas secções da mesma pista, espalhadas por múltiplos eventos. Engraçado de notar que no primeiro jogo a pista na sua totalidade só aparecia já nas partes finais como um desafio de dificuldade avançada, mas no segundo decidiram cortá-la aos pedaços e fazer disso uma liga inteira. Dá para perceber como a repetição aparece logo no início do jogo?
Nas últimas partes do modo de carreira do jogo, múltiplos circuitos deixam de aparecer e passa-se a ter diversos eventos com basicamente variações de Sebring International, Suzuka e Sunset Peninsula (o nome de todas estas pistas começam por ‘S’ 🤔). Demorei mais tempo a completar Forza Motorsport 2 que Forza Motorsport 1 porque acabava por ter de fazer mais pausas para evitar o tédio por repetição. É uma pena, porque tirando este grande problema, a sequela melhora noutro aspeto igualmente importante: o núcleo do jogo.
Mecânicas Nucleares
A sensação de condução foi subtil, mas notavelmente melhorada. Danos no motor exagerados por manter as rotações do carro no seu limite máximo por uns instantes a mais já não acontecem, rasar uma curva não leva à perda instantânea de velocidade em circunstâncias muito específicas, o carro não perde o controlo de maneira questionável ao passar pelos delimitadores do circuito, e os danos sofridos por colisões ou toques laterais aparentam ser mais razoáveis. Por alguma razão decidiram remover a funcionalidade que, quando o carro raspa numa parede, deixa marca da tinta que lá permanece na duração da corrida. Estava convencido que ainda lá estava na sequela…
A IA (Inteligência Artificial) dos carros não apresenta muitas diferenças entre os dois jogos. Talvez cometam menos erros durante as corridas, mas não deixam de ser agressivos. Tive múltiplos momentos onde os meus adversários me atiravam para fora da pista em secções de reta, onde não tinham motivo nenhum para o fazer. Talvez se quisessem posicionar mais corretamente no asfalto, mas isso indica que a IA não tem noção por onde o jogador anda. Não sei se atribuir um ato de agressão à incompetência dos rivais torna a coisa melhor ou pior.
Progressão
Tal como no primeiro jogo, a progressão no modo de carreira e no modo de arcada são dois modos completamente distintos, sendo possível utilizar carros comprados e personalizados no modo de carreira para completar pistas no modo de arcada. Como já mencionei há duas secções atrás, Forza Motorsport 2 tem mais ligas tradicionais no modo de carreira, com a adição de rivalidades regionais, em que normalmente há carros de dois fabricantes de diferentes regiões, das quais o jogador pode escolher o que quiser, para supostamente determinar qual dos dois fabricantes tem os melhores carro. A outra liga nova é as competições stock, em que as diferentes competições têm como requisito de entrada um único carro que não pode ser modificado, salvo pequenos ajustes de tuning. Esta condicionante obriga o condutor a ambientar-se ao carro e a todas as suas pequenas intrincarias.
Já no modo de arcada há dois modos de jogo: corridas normais e corridas contra o tempo. Tudo extremamente normal, sendo que estes modos apenas têm de ser completados ou por motivos de finalização do jogo (como eu fiz), ou só para ter todos os carros e pistas disponíveis para depois jogar com outras pessoas mais casualmente.
Ilações
Portanto passadas umas 100 horas de jogo posso confirmar que Forza Motorsport 2 é um bom jogo, se bem que um pouco repetitivo, não se desviando muito de trends de design da época e, por consequente, não se destacando muito do seu predecessor. O consenso da Internet é que a terceira entrada é que elevou a série para níveis semelhantes a Gran Turismo. Como a quinta iteração de Gran Turismo parecia estar a demorar tempos infindáveis a sair, deu tempo suficiente para Turn 10 (o estúdio de desenvolvimento) iterar e melhorar a fórmula.
Parece-me que esta segunda iteração teve um tempo de desenvolvimento apertado. O primeiro jogo começou a ser desenvolvido nos inícios dos anos 2000 e só saiu em 2005. Existe uma versão muito embrionária do jogo a circular na Web com data de 2002. Isso dá, no mínimo, 3 anos de desenvolvimento. Em comparação, Forza Motorsport 2 saiu em 2007, ou seja, a equipa teve dois anos para não só ambientar às novas capacidades da Xbox 360 como também melhorar a fórmula do jogo original. Suspeito que este facto explica a omissão de pistas noturnas ou das corridas ponto a ponto.
Espero num futuro possivelmente não muito distante voltar a este tópico, mas comparando Forza Motorsport 2 com o 3. Com base nas expectativas criadas pela Internet, espero voltar só com coisas positivas a dizer.